Terça-feira, 19 de Novembro de 2013.
Esta não foi uma noite como são todas as outras, pelo menos não o foi para nós, portugueses, para todos os que sentem no peito o hino nacional, mesmo não sendo patriotas acérrimos, que sentem orgulho em ver o desfraldar daquela bandeira diferente de todas as outras…
Em campo entraram duas equipas à procura da mesma “terra prometida”, desta feita, vestida de verde e amarelo num jardim maravilhoso, cheio de encantos mil e de ligações de que os suecos nem sequer sonham e, sobretudo, não imaginam que este talvez seja o campeonato do mundo em que os portugueses mais quiseram e sonharam estar presentes… no Brasil!
As razões históricas que se encavalitam neste desejo são mais do que conhecidas e seria uma perda de tempo estar a falar sobre elas, por isso, vou ao essencial, vou direitinho a ti capitão, comandante, GENERAL! A ti, Cristiano Ronaldo!
Não se avizinhava uma noite fácil para ti…
Do outro lado, com missão idêntica à tua estava um adversário sobre o qual recai a minha enorme admiração. É um jogador extraordinário, que, carrega nas costas a responsabilidade e o peso de um país frio demais para um jogador tão explosivo, escaldante e fantástico, o Zlatan, o Ibra. Sabes, ele é verdadeiramente brutal (creio que é a palavra mais adequada para o descrever), tem uma colecção de “golos” de outro mundo, mas, e porque tem de haver sempre um mas, felizmente ele é uma ilha deserta num oceano de… nada! E mais do que isso, felizmente que na Suécia não existe um… João Moutinho!
Admiro muito o Zlatan, desde os tempos do Ajax. É certo que ele não tem os teus números, nem a tua superior e quase predestinada capacidade de pulverizares tudo o que são recordes, feitos, marcas, mitos, para REESCREVERES A HISTÓRIA.
Aliás, não há neste planeta futebolístico, nenhum jogador, NENHUM, que tenha essa capacidade constante de se superar, de se ultrapassar, de fazer e ser mais, de ser e se tornar maior e… caramba “Cris”, que noite, que jogo!! A tua segunda parte foi Inenarrável!
Há hoje, em Nós, o teu povo, um sentimento diferente desde que aquele senhor, já velhinho e meio “jarreta” veio gozar contigo naquela universidade pomposa.
Parece que passaste a ser, de uma vez por todas, o General deste nosso exército temerário e assustadiço. Mas no fundo, creio que todos nós – onde me incluo sem vergonha – estamos numa fase da nossa vida/história, em que precisamos decididamente de um herói, de alguém que nos faça sentir um pouquinho melhor e mais fortes, de alguém que corra por nós até à exaustão, à esquerda, à direita, que “sue que nem um porco” só porque no peito tem o escudo do seu país e que, quando foge aos que o “vigiam” e marca, não tem qualquer problema em dizer: “EU ESTOU AQUI!”. E estás mesmo, e nós sabemos agora, mais do que soubemos alguma vez, que estás mesmo!
Sabemos perfeitamente que sem os teus 4 golos (Marcaste-os todos neste playoff, não sobrou nada para ninguém) o Brasil 2014 corria o sério risco de… não ter piada nenhuma, de não ter as tuas arrancadas, as tuas fúrias, os teus “nós cegos”, as tuas assistências, os toques de calcanhar, os livres e as suas coreografias… E, se o Mundial sem o Zlatan não tem tanto interesse, sem ti, NÃO SERIA UM MUNDIAL!! Seria um bacoco encontro de selecções de futebol. Curioso é, que o senhor “jarreta” parece andar com a consciência pesada e agora decidiu, assim, sem mais nem ontem – porque ele pode decidir e dizer aquilo que bem lhe apetece – que a votação final para a Bola de Ouro se prolongará até 29/11, para que os jogos dos playoffs possam ser tidos em conta – já viu que apostou no cavalo errado este ano – na votação… A hipocrisia não conhece limites junto das entidades que te avaliam e decidem se te entregam a porcaria da bola ou não… Deixa lá, o futebol é isto mesmo, já o era antes de ti e vai continuar a sê-lo depois.
No entanto, hoje ganhaste um prémio bem maior e mais soberano do que a porcaria da Bola de Lata…
Ganhaste o Teu povo, a Tua gente, a Tua pátria! Ganhaste uma legião de apoio considerável, capaz de se curvar perante a tua notória entrega, a tua abnegação e a tua capacidade de sofrer, sim, porque não nos esqueçamos nunca que foste “trabalhar” no dia em que soubeste que o teu pai tinha falecido!
E por isso, por tudo isto, te digo, em meu nome e em nome de todos nós: Obrigado!
Obrigado por me encheres de orgulho, ainda que seja este um sentimento ridículo e comezinho, é meu, é nosso, é teu! E nessa liberdade ninguém toca! Tiram-nos o dinheiro, os empregos, levam-nos os amigos para fora, tiram-nos a esperança, mas que nunca se lembrem de atacar aquilo que para muitos é o tesouro de uma vida, o orgulho em ser e falar português e sobretudo que não nos tirem o gozo, a possibilidade de te ver assim, de quando em vez, marcar mais dois ou três! Obrigado Cristiano, três vezes obrigado!
(Texto publicado em versão mais curta no site do Público – P3)
http://p3.publico.pt/actualidade/desporto/9933/carta-ti-cristiano