O presente – sem papel de embrulho – e tudo aquilo que desejávamos nunca ter visto com estes mesmos olhos tristes com que vamos olhando para uns e para os outros, mais para uns do que para outros, é hoje uma convulsão ininterrupta de atropelos, desrespeitos, mentiras, enganos, desenganos, desonestidades e tantas outras atrocidades, diariamente expressas em assumidos e sinceros laivos de selvajaria, mordidelas venenosas e assomos de prepotência que, mais do que roçar, se esparramam na lama porca em que dorme a falta de educação. Há, com excepção da altura do Natal, um ausência total de Compaixão, de solidariedade entre os homens, e isso é assustador, é mesmo, pelo menos a mim, que já não sou nenhum menino, assusta-me, assusta-me que o homem não saiba, ou não queira, ou que pura e simplesmente não consiga ser mais do que isto.
Bem sei que são palavras caras, e grandes, que, e sobretudo que se tratam de palavras, de verdade. Vocábulos emparelhados com algum sentido.
E é isso que descompõe o arranjo.
Ah, Realidade!
Sacana, tu que foste esculpida a crédito e te apoiaste na pobreza de tantos e tantos mais, e que os usaste depois para sustentar a riqueza infeliz e vazia de tão poucos, daqueles de quem se diz que: “prosperaram”, à custa de coisas que… que sabemos nós quais, tu que assistes, aqui e ali, ao inegável esvaziar do que falta dos remendos dos bolsos das calças, dos casacos, até dos cordões gastos dos sapatos, também eles manifestamente desgastados pelas unhas que os esgravatam inconformadas e impiedosas, tanto aos bolsos como aos sapatos, diz-nos: – Que queres tu da gente boa?
Que esperas tu que A Gente faça?
É que isto, a continuar assim, é uma desgraça e sobretudo não tem lá muita graça.
É tudo, sim?
Adeuzinho,
Passar bem.
Para si também.
És tu.
És tu também.